Sabe aquela música Anna Júlia, do Los Hermanos? Fez um sucesso imenso. A banda ficou famosa por causa dela. Depois de explodir, eles mudaram bastante de estilo, lançaram discos aclamados… Mas eram muito lembrados por Anna Júlia, mesmo não tocando a música nos shows há um bom tempo. Por que estamos falando disso? Temos uma lição a aprender. Durante uma entrevista, Rodrigo Amarante, um dos integrantes da banda, deu uma aula sobre como perguntas erradas podem ferrar um repórter. E, bem, as semelhanças entre fazer uma entrevista e uma abordagem de vendas são muitas. Olha só como foi:
Repórter: Vocês são sempre lembrados por Anna Júlia, né? Amarante: Nem sempre. Repórter: Te incomoda ser sempre lembrado por Anna Júlia? Amarante: Não, porque nem sempre. Repórter: Porque sempre quando tem Anna Júlia, tem referência: Los Hermanos, Anna Júlia… Amarante: Hã? Repórter: Sempre tem essa relação, Anna Júlia, Los Hermanos… Amarante: Ah, é uma música nossa, né? Por isso tem relação… Você queria saber o que mesmo? Repórter: Se incomoda vocês serem sempre lembrados por Anna Júlia. Amarante: Não, porque não é sempre que a gente é lembrado por Anna Júlia. Você vai ver, hoje a gente não vai tocar Anna Júlia. Repórter: Mas sempre a galera pede. Amarante: Não. Repórter: Não pede? Amarante: Não… Você já foi no show do Los Hermanos?
Mal informado e despreparado, o repórter fez uma pergunta fechada e tendenciosa – e acabou contra a parede. O mesmo acontece em vendas.
O que leva vendedores a fazer perguntas do jeito errado?
O pior caso é do vendedor que desconhece ou ignora o contexto do prospect. Ele simplesmente assume que sabe da realidade e tem a solução certa. A partir de suposições, usa perguntas fechadas para tentar encaixar um problema, muitas vezes inexistente, na situação do prospect. Mas também pode ser por inexperiência. O vendedor até tem boas intenções, quer explorar o problema e investigar o contexto. No entanto, usa perguntas fechadas para isso e transforma a conversa em questionário. O resultado é o mesmo nas duas hipóteses: uma abordagem que cria barreiras, levanta objeções e gera desconfiança. O oposto do que buscamos em vendas consultivas. Para combater isso, é preciso aprender a fazer as perguntas certas, no momento certo. Já falamos aqui no blog sobre as perguntas abertas. Agora é a vez das perguntas fechadas.
O que são perguntas fechadas?
As perguntas fechadas são aquelas que restringem a resposta a poucas opções, como “Sim” ou “Não”. Logo, a construção de perguntas fechadas em geral envolvem um fato, uma suposição ou escolhas. Alguns exemplos de perguntas fechadas:
Você tem dificuldade com [problema]?
Você já tentou resolver esse problema antes?
Você pode investir nisso agora?
É você o responsável por essa decisão?
Esse problema afeta a sua produtividade?
Sua equipe faz X?
Seu processo inclui Y?
Você não acha uma boa ideia fazer Z?
Ou seja, são perguntas que buscam confirmar um fato ou ideia. Ao contrário das perguntas abertas – que estimulam a reflexão e resultam em respostas completas -, as perguntas fechadas exigem poucas palavras, são mais fáceis e rápidas e responder. Elas não abrem espaço para explicações: a pessoa precisa apenas concordar, discordar ou escolher uma opção. Parece bem prático, não é? Mas as perguntas fechadas têm que ser usadas com muita cautela! Vamos entender por que a seguir.
As armadilhas das perguntas fechadas
Elas são uma tentação para qualquer vendedor. Fazer uma sequência de perguntas fechadas seria mil vezes mais rápido e fácil. Aplicar o bom e velho BANT e perguntar na lata:
“Tem dinheiro?”
“É você que decide?”
“Tá precisando?”
“É pra já?”
E fechar a venda. Não seria ótimo? Seria, mas você já sabe que não é assim que as coisas são em vendas B2B. É preciso qualificar, entregar valor e ter um bom relacionamento com o cliente. E usar as perguntas fechadas de forma equivocada é um entrave.
Armadilha #1: Buscam uma confirmação
Na própria maneira como são formuladas, com fatos, suposições e escolhas, elas já trazem embutido um problema. É muito comum que perguntas fechadas sejam tendenciosas e incitem uma resposta desejada. É o caso daquele exemplo que citamos lá no início: “Te incomoda ser sempre lembrado por Anna Júlia?”. Ela já pressupõe um problema e solicita uma confirmação. É como se nossos consultores de vendas perguntassem para você:
“Te preocupa que a sua abordagem de prospecção esteja fora de controle?”
“Você acha que ter uma cadência de prospecção iria ajudar?”
Armadilha #2: Geram respostas problemáticas
As respostas podem até ser positivas, porém…
É mais fácil virem acompanhadas de um “mas”, uma objeção que você tenha que lidar logo de cara.
Como o prospect não foi estimulado a refletir sobre o assunto, as chances de ele estar falando da boca para fora são grandes.
Você encontrou uma dor e ofereceu uma solução sem conhecer o contexto, essa venda não é consultiva e pode prejudicar a sua empresa a longo prazo, aumentando o churn, por exemplo.
Por estas razões, as perguntas fechadas não são recomendadas para explorar problemas e investigar o contexto do prospect. É melhor usar as perguntas abertas para isso. Elas são ótimas porque dão oportunidade ao prospect de expor e explicar quais são os problemas que enfrenta, em vez de apenas obrigar ele a responder um questionário.
Armadilha #3: Interrompem a conversa
Aliás, esse é um outro problema das perguntas fechadas. Como as respostas são curtas, elas causam uma interrupção na conversa. O que pede uma outra pergunta. Isso pode dar início a um ciclo “pergunta fechada-resposta curta-pergunta fechada” que torna a conversa automática. Isso demonstra que você não está interessado em ouvir o prospect e em ajudar de verdade. Aí fica difícil ganhar a confiança dele, não é? Mas calma! A seguir vamos ver quando e como usar as perguntas fechadas da forma correta – e evitar cair nessas armadilhas.
Quando fazer perguntas fechadas em vendas
Também não vamos pintar as perguntas fechadas de vilãs das vendas consultivas! Só precisamos saber quando e como utilizá-las. Já falamos anteriormente que elas servem para confirmar fatos e ideias. E que, por isso, não são recomendadas para qualificar e explorar o problema. Mas então, quando é que se usa uma pergunta fechada? Bom, você vai usar perguntas fechadas em todo o processo de vendas, mas em momentos pontuais:
Para nivelar a conversa
Às vezes você não tem ideia do nível de conhecimento do prospect. Isso serve principalmente para vendas mais complexas, de nichos específicos. Em vez de assumir que ele é letrado no assunto, faça uma pergunta fechada como: “Você tem familiaridade sobre como negócios como o seu utilizam a solução X?”
Para confirmar informações fornecidas pelo prospect no diagnóstico
A lógica de abordagem que recomendamos é: pergunta aberta > escuta ativa > pergunta fechada para confirmar informações > pergunta aberta de follow-up para investigar mais a fundo. Ou seja: depois de ouvir com atenção o que o prospect tem a dizer, você usa uma pergunta fechada para confirmar se entendeu corretamente. Isso sinaliza que você está interessado, atento e que realmente quer entender o que ele enfrenta. Além de dar a chance de ele explicar melhor e corrigir algum desentendimento, a pergunta fechada também serve para deixar a conversa mais fluída e fazer uma transição suave entre um tópico e outro. Um exemplo:
Pergunta aberta: “Qual o seu maior desafio hoje?” Resposta do prospect: “… tenho que alcançar meta X, mas meu processo tem problema Y e não consigo fazer Z…” Pergunta fechada: “Você acha que não conseguir fazer Z está impedindo de alcançar a meta X?” Resposta do prospect: “Sim…” Pergunta aberta: “O que você acha que precisa para conseguir fazer Z?”
Para validar gatilhos de passagem do pipeline de vendas
Os gatilhos de passagens são condições que o prospect deve cumprir para passar de uma etapa a outra no processo de vendas. Temos um conteúdo que explica a importância de obedecer os gatilhos de passagem para manter o pipeline limpo e saudável. Se ainda não está familiarizado com esse conceito, recomendamos que você leia! É o prospect quem deve dizer se está pronto para a próxima etapa. Um gatilho de passagem pode ser, por exemplo, que o prospect diga que vai investir em uma solução para o problema identificado. Uma pergunta fechada possível é: “Você está pronto para investir em uma solução para esse problema agora?” Se o gatilho fosse prioridade, a pergunta poderia ser: “Na sua lista de prioridades, resolver isso é 1, 2 ou 3?“
Para fazer checkpoints
Faça perguntas fechadas para garantir que o prospect obedece a todos os critérios de qualificação. Quando se trata de pontos essenciais para fechar a venda – budget, decisor, urgência etc. – não se baseie no que você concluiu sozinho ao ouvir o prospect falar. Sempre confirme essas questões com perguntas fechadas. É legal fazer uma premissa para contextualizar a pergunta, por exemplo:
“Você mencionou que quer atingir o objetivo X até o fim do ano e concordou que nossa solução vai colaborar para isso de Y e Z forma. Levando isso em conta, você pode se comprometer a investir R$ por ano?”
Viu só? As perguntas fechadas também têm o próprio valor! Elas são essenciais para manter a objetividade e clareza no processo de vendas. Com as perguntas fechadas, você não deixa passar nenhum mal entendido, não tira conclusões precipitadas e garante que está avançando prospects com grande potencial de compra. Logo, elas são a chave para manter a saúde do pipeline. Basta saber usá-las corretamente!
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Diego Cordovez
Co-fundador da Meetime
Diego Cordovez é Engenheiro Mecânico, sócio e diretor da Meetime. É responsável pelo maior mapeamento sobre este assunto no Brasil, a pesquisa Inside Sales Benchmark Brasil, e há 4 anos apresentador do podcast Casts for Closers, eleito em 2019 o melhor podcast de Vendas do Brasil, pela Vendas B2B Awards.